CAPÍTULO 22
Conversa
Otávio conversa com os irmãos sobre os
boatos que dizem que Antonio é seu pai.
No dia seguinte Darci e Dirceu estão tratando o gado que fora comprado no dia anterior. O trabalho dura a manhã toda e, ao meio dia, os irmãos se dirigem ao galpão para o almoço.
Otávio está esperando por eles ao lado do fogão de chapa de ferro que esquentava a comida. O cozinheiro havia preparado um arroz carreteiro com charque especial vindo da região de campos do Rio Grande do Sul. O cheiro da comida impregnava os ares e dava água na boca.
Otávio pediu ao cozinheiro que servisse a comida aos empregados, que eram em número de dez e também aproveitou para almoçar junto aos peões. Depois da refeição, o patrão pediu aos irmãos que o acompanhassem até a sede. Quando chegaram, Otávio pediu à queima roupa:
― Ouvi conversas que afirmam que Antonio não é apenas parecido comigo, mas é meu pai. O que vocês têm a me dizer sobre isso?
Os irmãos se olharam firmemente e Dirceu respondeu:
― Patrão! As conversas dizem isso, pois as pessoas percebem a grande semelhança entre vocês. Estamos querendo mudar de vida, deixar de cometer crimes, e essa é a hora para começar a mudança. Nós vimos a família de Antonio ser assassinada por Lico, a mando de Altair e o senhor ser poupado para ser um patrão déspota igual a Altair. Por sorte, ou destino da vida, o senhor é muito diferente e nada tem de Altair.
O rosto de Otávio ficou vermelho e ele não sabia o que responder ou fazer. Ficou calado longo tempo, imóvel. Depois pediu aos irmãos:
― Vocês participaram do crime?
― Não! – respondeu Darci – Ficamos ao longe segurando os cavalos enquanto Lico e os comparsas faziam o serviço. Éramos muito jovens e ainda não tínhamos capacidade ou coragem para tais atos de banditismo. O patrão mandou matar a família como vingança por Antonio ter ido à fazenda pedir para que não os expulsassem da terra, e, ao ser confrontado pelo irmão de Altair, atirou, ferindo-o no braço. Altair não quis saber e mandou matar a família sem piedade.
― Porque me deixou viver?
― Ele queria um filho e a mulher não podia engravidar. E também para que pudesse criar um menino com seu jeito de ser.
― Porque deixou o pai vivo?
― Para que vagasse pelo mundo e ficasse louco. Seria muito pior que morrer, pois haveria de fenecer a cada instante recordando a morte da família.
― Antonio tem raiva de Altair e de mim?
― Não! Ele não guarda rancor. Parece que sabe que Deus haverá de castigar os culpados e premiar os inocentes.
― O que é que podemos fazer agora que sabemos disso? – Otávio perguntou, pois estava muito abalado com a notícia e não sabia que rumo tomar.
― O melhor é esperar e nada fazer. O patrão já está velho e mais dia menos dia acabará morrendo. Então será o tempo de fazer alguma coisa para reparar o passado.
― Se o patrão souber que foram vocês que me contaram a história a coisa vai ficar feia, – recomendou Otávio - por isso o melhor é ficar de bico calado e continuar trabalhando como se nada tivesse acontecido.
― Certo patrão. Pode contar conosco que de nossa boca nada sairá.