Brisa suave nos envolvia na noite delicada. O perfume das flores do jardim enchia nossos pulmões enquanto conversávamos.
Estávamos sentados em cadeiras no alpendre, observando as luzes da noite enquanto debatíamos diversos assuntos ligados à eternidade e a Jesus, nosso Mestre Divino.
- Jesus é o Mestre de todos os Espíritos – disse Maria Rosa. – Sem Ele somos náufragos em um oceano proceloso.
- Náufragos que se encaminham a um abismo sem fim, pois quem não tem um norte, com certeza, ruma ao sofrimento e à ilusão – complementei.
- Quem não conhece Jesus tende a não avaliar corretamente as leis do universo – estabeleceu Maria Rosa, – Sem Jesus, somos meros espectadores da vida, sem o pleno conhecimento da integralidade das leis e condições que nos regem.
Maria Rosa dizia isso com a certeza de quem sabe muito de todas as nuances que regem o mundo. Ela estava maravilhosa em seu vestido azul, longo, enfeitado com franjas coloridas. Nesse momento, senti que a grande guerreira recordava passagens de quando encarnada, dada a expressão que mantinha no rosto iluminado.
Seus cabelos longos, ondeados, caíam sobre os ombros dando-lhe um ar juvenil e meigo em seu semblante sereno. Parecia que sua mente estava muito distante. De repente, olhou-me firmemente e disse:
- Avó Maria! Nós somos felizes em viver em uma cidade espiritual de nível elevado, onde apenas Espíritos bons labutam. Os menos esclarecidos que aqui aportam são os necessitados de tratamento e que demonstram estarem acima dos desejos de complicações. Aqui temos a oportunidade de servir e crescer enquanto milhares de Espíritos vagam pelo umbral e não encontram meios de modificação.
- Temos andado pelas regiões nebulosas e encontrado milhares de Espíritos que vagam sem destino naqueles lugares. Temos que, todos os dias, agradecer a Jesus por permitir que tenhamos possibilidades de trabalhar pelo bem.
- A melhor maneira de agradecer é trabalhando – confidenciou-me Maria Rosa com um sorriso. – O trabalhador deve estar sempre preparado, pois a qualquer momento é chamado à luta.
- Ainda bem que estou junto com vocês – disse-nos Luisinho. – Se eu não estivesse aqui, ao lado de vocês, com certeza estaria em maus lençóis nas regiões de sofrimento.
- Se você estivesse perdido no mundo, nós o encontraríamos, pois os Espíritos familiares se procuram e se encontram em qualquer parte – afirmou Maria Rosa. – Os Espíritos afins, inconscientemente, se buscam, não importa onde estejam.
- Eu tive a oportunidade de estar na família da avó Maria há muitos séculos e com ela poder palmilhar as estradas do mundo.
- Felizes somos nós, Luisinho, por termos a oportunidade de estar ao seu lado – Comentou a guerreira. – Não é todo dia que encontramos alguém do seu nível e isso nos orgulha muito.
- Penso que quem deve agradecer a oportunidade de andar com vocês sou eu e, bem sei, não mereço isso.
- Muita gente encarnada se pergunta como é viver no mundo dos Espíritos – comentei. – Muitos têm a curiosidade de saber, mas têm um medo inexplicável de ter que chegar ao nosso mundo.
- Quem está na Terra, encarnado, fica agarrado à matéria e não quer passar para o nosso lado, o nosso mundo – comentou Luisinho.
- Ter curiosidade é uma coisa, passar ao mundo espiritual é outra e muito diferente – complementei o pensamento do menino, observando-o atentamente.
Luisinho é um menino de sete anos, loiro, pele branca, magro, olhos azuis, cabelos loiros caindo até os ombros. É nosso companheiro de trabalho em nossa escola e está sempre disposto a ajudar os necessitados. É meu neto de vidas passadas e Jesus nos reaproximou na espiritualidade para juntos evoluirmos. Olhou-me firmemente e disse:
- O grande problema de se estar encarnado é que um tênue fio liga o perispírito ao corpo somático e, quando menos se espera, ocorre o desenlace. Um acidente, uma doença, um problema súbito de coração, um assalto, um assassinato, um escorregão...
- Muita gente que anda pelo mundo não está preparada para o desencarne – explanei. – Vivem como se não houvesse amanhã, fazem tudo o que pensam e querem sem se importar com moralidade, espiritualidade, vida eterna...
- Não se “ligam” que a vida é a somatória de diversas encarnações e a romagem terrestre é a escola que ensina ao Espírito a grande virtude da vida: a evolução espiritual.
Luisinho falava com a erudição que é própria de seu Espírito amoroso.
- Ah! Avó Maria! Quem dera soubessem o que nós já sabemos sobre o mundo espiritual – comentou Maria Rosa. - Na Terra, quem morre é o corpo físico. O Espírito alça voo, liberta-se dos liames que o prendem ao corpo e parte ao encontro do seu destino na espiritualidade.
- Aí é que reside o grande medo dos encarnados – asseverei com propriedade. – Os homens têm medo do desconhecido. A grande maioria vive da maneira que acha melhor, semeando ódio, difamações, separações e têm medo de encontrar-se com a própria consciência. Vivem no mundo como se não houvesse Deus e depois do desencarne veem que erraram muito por seguirem o materialismo e o ateísmo.
- O grande problema – avó Maria –, é que não escutam os que já entraram em contato com a espiritualidade e que procuraram ensinar o caminho da luz, pela semeadura do amor – disse-nos Maria Rosa –. Procuram o comodismo de não ter que pensar em si e no próximo. Depois se arrependem, mas, então, é tarde demais.