CAPÍTULO 54
A caminho do forte
Os Cavaleiros da Luz seguem pela estrada nevoenta
e fria que corta o umbral nos rumos do forte
onde estão os prisioneiros.
Foi ficando para trás a estrada luminosa que conduzia ao Reduto espiritual. O caminho começou a se tornar tortuoso e estreito quando começamos a penetrar a região do umbral. As claridades da manhã passavam apenas raramente em alguns locais onde a neblina era menos espessa e os raios do sol conseguiam penetrar fracamente.
A estrada se tornou reta e longa, passando ao lado de penedos altos e riachos de água barrenta. Os cavalos, acostumados à marcha na região, não recuavam ante os perigos que a estrada apresentava, antes batiam firme os cascos na terra vermelha, deixando para trás os penedos imponentes.
A região começou a ficar mais escura e a cavalgada mais difícil, pois a estrada se tornou muito estreita e o nevoeiro intenso. A estrada começou a ficar inclinada indicando que estávamos subindo um dos morros mais conhecidos da região, por ser lugar onde habitam muitos Espíritos inferiores, ligados às quadrilhas de traficantes de drogas e armas que atuavam na Terra.
No umbral continuam a praticar as maldades que cometiam na Terra e a passagem pelo local requer muita coragem e audácia dos cavaleiros. Mas nós não temos medo de visagem, caipora, mula sem cabeça e outros bichos que o folclore do mundo sempre valorizou para amedrontar os incautos.
Os Cavaleiros da Luz são muito protegidos pelas forças espirituais por atuarem na área perigosa do umbral. A claridade própria que emana de cada Espírito guerreiro os protege de qualquer ato de violência que intentem contra eles.
A caravana seguia em frente ouvindo os lamentos dos Espíritos sofredores que uivavam de dor e desespero enfurnados em tocas improvisadas ou escondidos detrás de troncos de árvores caídas.
Um grupo de bandidos apareceu na estrada à nossa frente e o chefe fez sinal para que parássemos. Ele nos olhou com desdém e nos pediu:
― Para onde estão indo os cavaleiros?
― Para uma região em outros campos acima – respondi com firmeza. – Estamos apenas de passagem e viemos em paz. Os senhores não se preocupem que não faremos nada que vá de encontro aos seus interesses.
― Para passar por esta estrada, mocinha, tem que pagar pedágio – afirmou o malfeitor que era um homem que aparentava quarenta anos.
― Em qualquer estrada do mundo onde passamos não pagamos pedágio – disse-lhe com determinação. – Não será aqui que pagaremos qualquer tributo.
― Então não passarão deste ponto – asseverou o chefe do bando. – Quem manda neste pedaço sou eu e quero ver quem passa sem a minha ordem.
― Se é assim, pedimos a sua permissão para passar pela estrada – solicitei com educação. – Estamos aqui só de passagem e não queremos bronca com ninguém.
― Quero que deixem dez cavalos, vinte espadas e dez fuzis – concluiu o chefe do bando, com um sorriso de mofo que me causou indignação.
― Nunca deixamos nossos cavalos, armas e apetrechos em qualquer lugar e não será hoje que deixaremos – disse-lhe com voz de quem não está mais para conversa. – Abram caminho para que nossa comitiva passe.
O chefe fez sinal aos bandoleiros que estavam logo atrás e eles fizeram menção de nos atacar com espingardas, espadas e lanças. Não deu tempo de pensar em o que fazer, pois quando viram a coluna de nossos cavaleiros disparou em frente em galope alucinante, fazendo vibrar a terra sob os cascos dos cavalos.
A arremetida foi forte e certeira e quando os malfeitores se deram conta estavam se jogando para a beira da estrada, caindo no meio do capim, rolando pelas ribanceiras, estatelando-se, lá embaixo, na ravina.
A galope passamos pelo local demarcado pelos malfeitores como de pedágio e seguimos em frente no rumo norte em busca da estrada que nos levaria até o forte. Trinta minutos depois chegamos à encruzilhada onde seguimos pela esquerda até começarmos a encontrar os charcos onde os Espíritos sofredores pagavam suas penas.